sábado, 26 de dezembro de 2009


Eu estou aqui para o mundo
Mas o mundo não está aqui para mim
Mas que pedaço de papel queimado
Faço de mim, desgraçado.
Mas que pobre bocado de pão
Me torno, em mim, podridão...

Nada na negridão do meu olhar
Me impede ou incita a amar
Nada em vida pobre
Que tenho e me impede de ser nobre,
Poderá trazer qualquer tipo de mim
Pois nada no mundo me diz que sim.

A circunvalação social
Que retrato em versos altamente poéticos
(altamente ou pobremente)
Tornam-se pedaços momentâneos e épicos
Da desilusão de nós, energúmena gente!

Porque Deus e o diabo são iguais: inexistentes
Porque a essência de nós próprios é a mesma que nada
Porque a essência não é a que se conhece:
É a que se sente
Nos espaços recônditos da mente
Na percepção de que ninguém é diferente
Na concepção de mim enquanto gente.

E o mundo é matéria que habitamos
Mas temos a casa suja, acredite-se!
Nos pedaços amáveis dos que amamos
Arrumar-se-á a beleza que nunca notamos
Porque somos demasiado secundários
Porque as letras formam mais que abecedários!

Este poema é prova disso
O mundo é mais do que aquilo que vemos
O mundo é tudo o que temos!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009


Não sei se alguma vez a vida será igual.

O que vi hoje,
O que senti hoje,
Fez-me parar e duvidar de tudo.

Duvidei de que o mundo é assim tão mau
Duvidei até de que nunca mais serei alguém.

E tudo isto por uma simples razão
Sentir-me pequeno
Tão pequeno como um grão de areia, tão pequeno
Que cresci imenso.

Nem sei expressar bem as memórias que guardarei em mim
De hoje para o resto da minha vida
Nem sei sequer
Se poderei ou não dizer
Quem sou, como sou, porque tudo é subjectivo.

Na realidade, o que vi foi Paris
E sinto que nada será como dantes
Percebi as maravilhosas coisas que podemos construir
E as maravilhosas sensações que as nossas construções nos dão.

Toda aquela luz no meio da sensualidade citadina
De uma cidade a arder...
A arder em desejo, em brilho, em perfeição
O caos misturado com a calma
O equilíbrio e a diversidade cultural
Um Mundo dentro de uma caixa chamada Paris.

O que lá vi foi o que sempre quis
E concretizei um sonho, algo que nunca tinha feito
Por muito insano que isto possa parecer.

Ver Paris dar-me-á, sem dúvida
A força que me andava a faltar
Para continuar, lutar, viver!

É impenetravelmente belo
Tudo o que vejo todos os dias.

Desde a inocência e felicidade existentes em mim
Ate a impaciência ou excessiva lucidez que me caracterizam.

Sou o que sou e porque o sou
Sou o resultado final da minha própria moldagem
E gostei, no fundo, do resultado.

Orgulho-me todos os dias que acordo
Por ter a força para viver mais um dia.
E nunca terei vergonha de acordar
Porque sou alguém de quem me posso orgulhar.

Sempre que saímos de uma tempestade temos de sair molhados
Mas sei que toda a água acumulada secou
Fiquei com marcas em mim, normal
Mas elas são algo com que cresço todos os dias
Sou forte, humano e sensivelmente racional.

Sou consequência do que a vida quis
Mas dou graças a isso porque há poucos como eu
Não tenho vergonha de nada do que até hoje fiz
E sei que cada erro foi uma lição que a vida me deu.

Por isso espero continuar a errar
Continuar a viver cada segundo poetizando
Fazendo dos que me rodeiam pessoas melhores
E de mim próprio o resultado disso
Porque sei que apenas sonhando
Poderei realizar o que a todo o momento sonho.

Poucos se atreveriam a desafiar a vida como eu a desafio
Poucos deixariam tudo para dedicar a vida a quem «amam».
Sei que sou uma pérola fechada numa concha
Mas os benefícios das minhas decisões virão com o tempo.

Por isso deixei de ter vergonha de mim
Sou consequência nítida do que vivi
E sei que o que vier de bom será amplificado
Porque lhe darei mais valor do que alguma vez antes lhe teria dado.

De quem cresceu com a maravilhosa vida
Para quem pensa que poderá não haver saída!

terça-feira, 17 de novembro de 2009


Nutro uma salutar falta de indignação
Por coisas relevantemente indignantes.

Talvez porque tenha perdido o interesse por pormenores.

Não deixa de ser irónico tudo isto
Como alguém constantemente preocupado
Se torna em alguém sem pressão.

Aprendi com o sofrimento
Que a vida tem de ser encarada com um sorriso
Que quando se vive ao máximo o momento
Temos tudo o que é realmente preciso.

Poder acordar e sentir alívio é fabuloso
Os momentos pequenos podem ser incríveis
Pois quando o que é simples se torna precioso
Ganhamos a capacidade de sermos invencíveis.

Interesso-me por descobrir
Descubro por cada dia que a vida existe
Existo sobretudo para sentir
Sinto-me perdido, sinto-me triste.

Quero ser o infinito alcançável
Quero ser a imperfeição perfeita
Quero ser o imortal destronável
Quero ser o desgraçado que se enjeita.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Para a minha loira



Abro os olhos e vejo-te
Sinto cada vez mais amor por ti.

Se a Lua é circular ou cortada
Se o Sol é lindo e não se pode ver
Posso sem dúvida olhar para ti
E dar graças por te ter.

Dizer que a minha vida é vazia é loucura
Contigo preencho os momentos maus de felicidade
Contigo não consigo parar de rir
E essa é a melhor prenda de uma amizade.

Obrigado, adoro-te
Sem dúvida não faço ideia do que faria
Sem amigos como tu.
Que me entendem, que vivem comigo os meus problemas
E que choram comigo as tempestades da minha vida.

Nem sei nem quero saber
Se nos poderemos ver todos os dias
Sei que nos sentimos constantemente
Pois se há algo que me faz continuar
É sem dúvida a amizade que me continuas a dar.

Obrigado pelo teu sorriso, Tânia.

     Hoje é apenas mais um dia. Daniel acorda, fica uma hora na cama a olhar para o nada, levanta-se a arrastar, veste-se e sai de casa. Note-se que não há amor por si próprio, apenas desprezo. A casa está completamente desordenada, tudo por arrumar, pratos na sala sujos, pinturas de depressão na parede, marcas de sangue das feridas que Daniel nunca realmente sarou, o quarto com a cama por fazer, a secretária preenchida com todos os poemas aos montes, tristes, melancólicos, mas sobretudo abandonados.
     Faz hoje seis meses que Daniel iniciou esta depressão, quando mudou para uma cidade sem nada, onde não conhecia ninguém, vindo de uma realidade ainda pior, onde foi rejeitado pela vida, onde viu pessoas que amava, que realmente amava, morrerem. Daniel tinha apenas dezoito anos, mas tinha uma vida preenchida de coisas que já vira que muitos adultos nem nos seus pesadelos imaginam. A realidade é que Daniel viu os seus pais na desgraça e nunca pôde fazer nada por eles a não ser dar «apoio psicológico». Viu a sua mãe e o seu pai suicidarem-se várias vezes, acredite-se ou não, os erros que viu os seus pais cometerem foram autênticos suicídios, até que percebeu que não havia nada que o agarrasse à vida.
     O corpo de Daniel era um autêntico reflexo da sua mente. O vestir era o mesmo todos os dias, não havia sequer uma tentativa de agradar aos outros, os pulsos tinham várias marcas de cortes, nunca tentativas de suicídio, mas sim tentativas de sentir a vida através do sangue e da dor.
     Entretanto Daniel chega a casa chorando, sem nenhum motivo aparente chora, não porque tenha uma razão em especial, mas porque tem a mesma razão de sempre: a sua vida não vale nada. Hoje foi um dia como todos os outros nos últimos seis meses, um dia inteiro sem fazer absolutamente nada e sem poder fazer absolutamente nada. Daniel sentia que chegara o momento. Correu para a secretária, correu de raiva, escreveu a um ritmo furiosamente rápido, levantou-se foi buscar a faca, e fez um corte diferente de todos os outros. Este foi propositadamente irreversível, este acompanhou a veia, foi feito paralelamente ao braço, acompanhou a raiva que sentia e foi feito paralelamente à sua mesquinha vida. Entretanto caiu, começou a ver tudo turvo, sentiu toda a sua vida passar-lhe à frente dos olhos e, percebendo que nada nela era alegre, sorriu. Talvez este tenha sido um sorriso de alívio por não ter mais que suportar esta vida. Este foi o último sorriso de Daniel.

    
     Eu próprio fui este Daniel, eu também suicidei o Daniel que existia em mim e os problemas que descrevo acerca da vida deste homem são na realidade os meus problemas. Nunca tive uma tentativa física de suicídio mas mentalmente fui matando algumas coisas que existiam na minha cabeça. Espero que as pessoas percebam um dia que a vida pode ser maravilhosa, mesmo quando saímos de uma depressão «não clínica» como a que tive. A vida pode de facto ser boa, temos é de olhar para ela de outra forma, mudar de lugar, conhecer algo novo, agarrarmos-nos ao que de bom temos e a vida de certeza será uma constante construção pessoal para uma felicidade que sei que todos desejamos.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

França


A moribunda sensação de lucidez
Leva-me a ser prudente por aquilo que os meus olhos alcançam.

Em França, os pensamentos dançam,
Os sonhos constroem-se naturalmente
E a vida flui de forma diferente.

Aqui o sorriso é mais espontâneo
As lágrimas mais naturais
A sensação constante de luz dá-nos luz
E a firmeza dos meus devaneios reluz.

Aqui tenho espaço para ser o louco que sou
Aqui tenho tempo para deixar suicidar o meu eu triste
Aqui sinto-me acompanhado para onde vou
E sei que havia algo que agora não existe.

Não sei se a tristeza é vã agora
Ou se a alegria era irrelevante dantes
Sei apenas que a vida não é a de outrora
E que as luzes cá são alegremente provocantes.

domingo, 8 de novembro de 2009




É estóico, desumano,
O esforço que faço, dia após dia,
Para encontrar razões que me agarrem ao discernimento.
Sei que tem sido um esforço constantemente inútil
Sei que me fez perder no Mundo
Luto a todo o momento
Levanto-me por todas as vezes que bato no fundo
Mas sou, ainda assim, feliz.

Nem que o Mundo saia de órbita
Nem que o Sol venha a explodir já amanhã
Sinto, no fundo, que me livrarei de todas estas fobias
Mas sinto também, e isso é indiscutível
Que nem que haja uma volta completa na minha vida
Nunca mais serei feliz como fui em criança
A tempestade tem sido tão grande
Que já não haverá uma tão grande bonança.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Falta de Satisfação metricamente ritmada


Abraça-me, preciso de afecto
Onde é que páras, satisfação?
E nunca mais vou chorar, prometo
Invade meu pobre coração.

Vem ter comigo aqui, onde estou
Faz de mim o teu amado irmão
Chama de onde estiveres que eu vou
Invade este pobre coração.

Preciso de ti mais do que tudo
Estou farto desta provação
Dá-me teu conforto de veludo
Assalta meu pobre coração.


Falta de alma metricamente ritmada



Já não sou eu, aqui
Vê-se só uma sombra
Do que vivi, de mim
Resta só esta sombra!

E este caudal de mágoa
Não consegue parar
Fúria na forma de água
Que me tenta afogar.

Recordo o que sentia
Enquanto fui eu próprio
Sonhava, amava, ria
Vivia neste meu ópio.

Nada vejo ao espelho
Já nem tenho reflexo
Pareço um louco velho
Cheio, sem alma, complexo!

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

A minha Odisseia


Que tormentas assombrosas me atingem
Que fogos cruzados enfrento
Que episódios dignos de epopeia
Indescritíveis até a Homero
E eu, que em meu reino impero
Percebo, que na minha própria Odisseia
Nada é mais importante que eu próprio.

A cada tormenta, a cada fogo cruzado
Os tripulantes do meu barco vão caindo
Cada um deles cai de fraco ou cansado
E só muito poucos comigo vão resistindo.

Sei hoje que cada amigo é um grão de pó
Que voa a cada vento que passa
Mas sei também que não estou só
E que me reerguerei no meio desta desgraça.


terça-feira, 3 de novembro de 2009

Esta é a razão porque Muse é a minha banda favorita.
Veja este vídeo:

United States of Eurasia - The Resistance 2009 (Muse)

Este é o reflexo exacto do que penso em relação a este tema.

Criança




Vive, por favor
Vive, criança
Sinal derradeiro de esperança
Reflexo de felicidade tão desejada
Criança minha tão amada.

Vive, porque estás a tempo de o fazer
Vive, porque vivendo sorris
E o teu sorriso salva o planeta.

Vive, porque preciso do teu viver
Vive, porque pela tua vida tudo fiz
Vive, nem que seja só por viver.

E sorri, sorri para me salvar
Sorri para eu ter a força necessária à minha salvação
Sorri para me curar tantas feridas
Que trago agarradas à minha desilusão.

A incapacidade que tenho não a tens tu
Por isso vive, criança
Sê a minha salvadora lembrança.
(de tudo, de nada, do que me salvar
Vive criança
Enquanto viveres vou-te amar) .


O amor dói



O amor dói,
Ah, se dói o amor!
Em cada célula, em cada átomo,
Em cada electrão vibrante do meu ser!

E que dor espalha ele!
Inexorável, fria, penetrante
Que dor esta que me impede de viver.
Respiro ofegante,
Vivo mais deslumbrado que deslumbrante
Mas sei que vivo para amar.

Sei que a vida me usa como um soldadinho de chumbo
Sei que Ela quer provocar em mim a dor que o amor traz
Mas sei também lá no fundo
Que sem esta dor não há vida,
Sem amor, ou dor, ou ambos
De nada sou capaz.

Que caos sou eu sem confusão?
Que guerra sou eu sem caos?
Que pessoa sou eu sem guerra?
A batalha que o amor me faz enfrentar
É o tutano que a vida me continua a dar.

Obrigado a ti, amor!

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Nada vejo
Tenho os olhos tapados
Por entre sonhos que almejo.
E alguns puderes bem disfarçados.

Ai vida, que quantidade de palavras
Dispersas e libertadas
Providencias ao povinho, escravo de ti.

Ai vida, pequena ou grande
Maravilhosa ou odiosa
És a prova de que ainda não morri.

A ironia e a fantasia dão as mãos
Quando percebo que a veia poética não desapareceu
Tal como a vida, ela mudou
Mas continua a ser o reflexo exacto do que sou.

Ai vida, continua a mudar
constante e contrastante mudança
reflexo da minha ténue satisfação
reflexo da minha frágil esperança
E continua a alimentar a minha inspiração.



De palmas bem abertas vives
De pão raro te alimentas
Nada nesta vida te ajuda a ser feliz
A tua vida é um mar de tormentas.

És símbolo do nossos próprios erros.
És causa e efeito do que quisemos de ti
Pobre criança não tens culpa
A tua vida não devia ser assim.

Esse olhar triste entristece-me
Esse desespero por um bocado de pão revolta
Não és a criança que devias ser
Não vives como devias: à solta.

Prendemos-te nós, criança
Nós, povinho insignificante e egocêntrico
Criança és a prova da nossa estupidez
Criança, não existe ser tão autêntico.

Sobrevives como podes
E ainda és tão pequenina para sofrer...
Devíamos dedicar-te a ti a nossa vida
Mais do que nós, tu mereces viver.


Joana
Nem com interesses camuflados
Nem com intenções obscuras
Nem com nada de influência minha
És mesmo assim.
Nem com vaidades irreflectidas
Nem com atitudes pouco nobres
Nem com nada de influência divina
Tu és mesmo assim.
Pois se algures no tempo disse que eras um anjo
No nosso tempo de amizade sincera, enganei-me.
Anjo não és,
és Deus, e eu sou Jesus.
Não penses que sou exagerado
Ou que tenha vigor desmesurado
Pensa antes, com teus nobres pensamentos
Que se Jesus ressuscitou graças ao seu Deus
Também eu ressuscito das minhas mortes
Por cada vez que falo contigo.
Nada neste Mundo é desordenado
Nada nele é desorientado
Quando me recordo de ti.
Nem chama, nem amor, nem desejo
Nada me cativa mais do que a nossa amizade
És o meu sorriso, és a minha vontade.

Maldito Sebastianismo
A Lua brilhava mais que o Sol
O céu estava mais perto que a Terra
Tu, Portugal, eras mais que o sonho
Mais que a depressão, mais que a saudade
Foste antes imperador
És hoje um mero sonhador.
Para quê lutar, Portugal, para quê?
Se um bocejo é mais fácil?
Se uma desculpa é mais fácil?
Se uma lágrima é mais fácil?
Mergulha e afunda-te
Sê cada vez mais esta depressão
E não lutes.
Metes pena, Portugal
Tenho pena de ti
Mas tu não tens pena de ti próprio
Hoje és depressão, és sonho, és saudade
Sebastião o teu ópio
Preta a tua coroa
Inexistente a tua vontade!
Tomas Valongo

Sinto um baque profundo
Em cada poema que me sai
Porque a poesia é o meu mundo
Conheço-a melhor do que a tudo
Ela é das únicas que não me trai.

São os poemas que me ajudam a viver
(por muito extremo que isto possa parecer)
São eles que me fazem sentir-me eu
Gosto deles porque me fazem enaltecer
Gosto sobretudo porque me dão o que quero ter
E me levam a um mundo só meu.

Tudo no Mundo é poesia
Desde o caos à liberdade
Tempestade na maresia
Ou calor na neve fria
Ou agridoce verdade.

Por cada vez que paro e sinto
Saem-me ao repente coisas bonitas
Como a solução constante do meu labirinto
Como um recordar infinito
De coisas que não são infinitas.